O futebol feminino no Brasil tem quase um século de existência, mas ainda enfrenta muitos desafios para se consolidar como uma modalidade esportiva de respeito e visibilidade. Neste artigo, vamos conhecer um pouco da trajetória das mulheres que driblaram o preconceito, a proibição e a falta de apoio para jogar a paixão nacional.
Os primeiros passos do futebol feminino no Brasil
O primeiro registro de uma partida de futebol entre mulheres no Brasil é datado de 1921, quando senhoritas dos bairros paulistanos da Cantareira (atual Santana) e Tremembé se enfrentaram em meio às festas juninas. O jogo foi noticiado pelo jornal A Gazeta como uma atração “curiosa” e “cômica”, revelando o tom de desprezo e deboche que marcava a relação da sociedade com o futebol feminino na época.
Nos anos seguintes, algumas equipes femininas surgiram nos grandes centros do sudeste brasileiro, aproveitando a popularização do futebol masculino profissional. Esses times faziam excursões pelo Brasil e pelo mundo, apresentando o “football feminino” como uma novidade ou um espetáculo. O ponto alto desse período foi em 1940, quando o Casino de Realengo e o S.C Brasileiro se enfrentaram no recém-inaugurado Pacaembu. Especialmente pela presença do presidente Getúlio Vargas e à estreia da iluminação do estádio.
A proibição e a resistência do futebol feminino
No entanto, o sucesso da partida no Pacaembu gerou uma forte reação das alas conservadoras da sociedade. Principalmente porque viam o futebol feminino como uma ameaça à moral e aos bons costumes. Então, em 1941, foi criado o Conselho Nacional dos Desportos (CND), que instituiu o decreto-lei 3199, proibindo as mulheres de praticarem esportes considerados. Segundo o CND o esporte era “incompatíveis com as condições de sua natureza”.
A proibição durou até 1979. Entretanto, nesse período, as mulheres que queriam jogar futebol tiveram que enfrentar muitas dificuldades. Ou seja, a falta de campos, de material esportivo, de patrocínio e de apoio da mídia. Além disso, elas sofriam com o machismo, a violência e a discriminação dentro e fora das quatro linhas.
Mesmo assim, elas não desistiram do seu sonho e continuaram jogando futebol de forma clandestina ou amadora, formando times em fábricas, escolas, igrejas ou comunidades. Algumas dessas equipes se destacaram pela qualidade técnica e pela organização, como o Radar (RJ) e o Saad (SP).
A ascensão e os desafios que as atletas enfrentaram no futebol
Com o fim da proibição, o futebol feminino no Brasil começou a ganhar mais espaço e reconhecimento. Em 1983, foi realizado o primeiro campeonato brasileiro feminino oficial, vencido pelo Radar. Em 1988, foi criada a seleção brasileira feminina, que participou pela primeira vez das eliminatórias para a Copa do Mundo em 1991.
Desde então, o futebol feminino no Brasil vem conquistando resultados expressivos no cenário internacional. Por exemplo, as medalhas de prata nas Olimpíadas de 2004 e 2008 e no Mundial de 2007. Como também os títulos da Copa América em 1991, 1995, 1998, 2003, 2010, 2014, 2018 e 2022. Entre as principais jogadoras da camisa verde-amarela estão Sissi, Formiga, Marta, Cristiane e Bia Zaneratto.
No entanto, apesar dos avanços, o futebol feminino no Brasil ainda enfrenta muitos obstáculos para se desenvolver plenamente. Entre eles, está a falta de investimento, de estrutura, de incentivo e de valorização das atletas, dos clubes e das competições. Além disso, o preconceito e a desigualdade de gênero ainda são barreiras que devemos superar.
Por isso, é importante conhecer e valorizar a história do futebol feminino no Brasil. Ainda mais porque é uma história de luta e conquista das mulheres que amam e vivem o futebol. Portanto, elas merecem o nosso respeito, o nosso apoio e o nosso reconhecimento.